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Uma recolha de críticas da autoria de Lauro António, aparecidas em diversas publicações portuguesas.

quarta-feira, junho 28, 2006

TIM BURTON:
"A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA"


Tim Burton, o realizador de filmes inesquecíveis como “Eduardo Mãos de Tesoura” ou “Ed Wood”, e ainda autor de obras particularmente interessantes como “Beetlejuice”, “Batman” e “O Regresso de Batman” ou “Marte Ataca”, volta agora com outra obra absolutamente notável: “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”.
O universo de Tim Burton é muito pessoal, mantendo-se com ligeiras alterações ao longo da sua filmografia, podendo integrar-se no chamado fantástico gótico, que tem em “Sleepy Hoolow” um excelente terreno para se desenvolver. Quem começa a ver as imagens iniciais desta obra não deixará de recordar-se da Hammer de finais da década de 50, e de todos os anos 60. Os processos de criar e sustentar o clima de terror são muito idênticos, muito embora possa existir uma abismal distância orçamental entre ambas as produções. O filme de Tim Burton é uma super-produção se comparada com os títulos rodados por Terence Fisher, que Burton homenageia directamente, ao escolher para o elenco de “Sleepy Hoolow” alguns dos actores presentes nas películas da Hammer, como é o caso flagrante de Christopher Lee. Acontece que Tim Burton possuiu uma invejável qualidade plástica, rigorosamente prolongada ao longo de todo o filme, compondo cada plano com a minúcia de um pintor inspirado. Depois, a inquietação é sustentada a um nível sempre bastante alto, ainda que, aqui e ali, se insinue uma ironia roçando o humor negro que distancia levemente o terror do horror "gore", onde uma obra tão rica em hemoglobina poderia facilmente cair. Finalmente, a interpretação de um elenco verdadeiramente de luxo e requinte faz o resto, transformando “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça” num excelente momento de cinema fantástico, que não se esgota nos limites de um género. “Sleepy Hoolow” é uma autêntica obra de autor e pode mesmo dizer-se que a personagem central de Ichabold Crane, o inspector de polícia que deixa Nova Iorque para ir investigar estranhos crimes numa longínqua aldeia, é um alter ego do próprio realizador.
Maravilhado pelas máquinas e truques ópticos que estão na base da invenção do cinema, as crianças prolongam o olhar encantando do cineasta para com as imagens que mentem, criando mundos de fantasia, onde a beleza e o horror se contaminam, não permitindo distinguir a verdade da mentira. Esse é o trabalho do inspector, que vem munido de aparelhos "científicos" para analisar fenómenos que ultrapassam a lógica, como seja a existência de um cavaleiro sem cabeça que se vinga de quem o matou assassinado vários habitantes de Sleepy Hoolow com um certeiro golpe de espada que lhes decepa as cabeças. "O Mal pode ter muitas faces, mas o mais grave é aquele que se comete em nome do puritanismo", diz Ichabold, e essa é obviamente a "moral" desta "lenda" que retoma imagens, figuras, ambientes, situações e metáforas de “Eduardo, Mãos de Tesoura” (que se mantém até agora como o melhor filme de Tim Burton).
A galeria de notáveis de Sleepy Hoolow é admiravelmente retratada, com fina ironia num desenho largo, que os actores servem na perfeição. Johnny Deep, na composição de Ichabold, é perfeito. A direcção artística, dos cenários ao guarda roupa é magnífica e o conjunto, muito embora um ou outro rodriguinho do argumento, assegura a esta obra lugar certa nos filmes de culto das próximas décadas. Não perca, portanto.

A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (Sleepy Hoolow), de Tim Burton (EUA, 1999), com Johnny Deep, Christina Ricci, Miranda Richardson, Michael Gambon, Casper Van Dien, etc. 105 min; M/ 12 anos. In “A Bola”, de 19.03.2000

1 Comments:

At 12:23 da tarde, Anonymous Anónimo said...

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