LA_Arquivo

Uma recolha de críticas da autoria de Lauro António, aparecidas em diversas publicações portuguesas.

domingo, junho 25, 2006

STEVEN SODERBERGH:
O REGRESSO DE
"OS 11 DO OCEANO”


Os filmes sobre grandes “golpadas” sempre fizeram as delícias do público, e alguns houve que ficaram na memória dos cinéfilos. “The Thomas Crown Affair” e “The Ocean’s Eleven” foram dois deles, e dois que justificaram muito recentemente “remakes” que não deslustraram dos originais. Muito pelo contrário. Em 1960, Lewis Milestone realizara Os 11 do Oceano, interpretado em peso pelo “gang” Sinatra. Com Las Vegas por pano de fundo, “a voz” reunia a seu lado Peter Lawford, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Joey Bishop, Angie Dickinson e Shirley MacLaine, planeando o astucioso assalto a um casino. Para lá do gozo do filme, sentia-se o prazer de rodar na cidade mítica do jogo, cujas noites o grupo de Frank Sinatra tão bem conhecia e curtia. Não era uma obra prima, mas captava o fascínio do jogo e do risco, e transmitia essa sensação ao espectador que dele fez um “filme de culto”. De tal forma que, quarenta anos depois, e com a crise de bons argumentos que impera em Hollywood, se voltaram a lembrar dessa história e Steven Soderbergh a recuperou para o seu mais recente trabalho, depois do ano glorioso de 2000, onde, com “Traffic” e “Erin Brockovich”, foi o grande triunfador da noite dos Oscars.
A nova versão de “Ocean’s Eleven” é um filme sobre a amizade e o “glamour”. Las Vegas é o cenário ideal com o deslumbramento das luzes, a sedução do “poker”, o ambiente saturado de um vício contagiante que vai das mesas de jogo às camas dos quartos de hotel, passando pelos bares e o fumo do tabaco. Há ali de tudo para criar um ambiente de cortar à faca e Steven Soderbergh mostra-o logo na sequência inicial, com Rusty Ryan (Brad Pitt), ensinando a jogar às cartas a promissores jovens de Hollywood, com monstras de mulheres fatais por cenário, a mesa envolta num fumo espesso e os copos misturando-se com fichas e notas de dólares. É aqui que Danny Ocean (George Cloony), recém saído da prisão de New Jersey, onde cumpriu pena de seis anos, vem desembocar, preparando um novo golpe de mestre: roubar três casinos de uma vez só (o Bellagio, o Mirage, e o MGM em Las Vegas), entrando no cofre-forte que tudo indica ser inacessível. Mas aí está uma das seduções do “golpe”: o risco. Para tanto é necessário reunir uma equipa de (onze) peritos em várias especialidades e captar as simpatias de um capitalista que suporte os custos (o escolhido é Reuben Tishkoff, admiravelmente interpretado por Elliott Gould). Mas há algo mais a acrescentar à trama: Danny Ocean não procura só roubar 160 milhões de dólares do cofre de Terry Benedict (Andy Garcia), mas recuperar também a mulher, Tess (Roberts), que vive agora com o dono dos Casinos.
Nestas coisas de grandes golpadas ninguém vai exigir um argumento plausível, mas sim inteligente, original e sofisticado. Todos sabemos que o que nos mostram é altamente improvável, mas o que interessa mesmo é o exercício da fantasia e da imaginação, bem cimentado numa situação inteligente e bem sustentada. É o que acontece, tanto mais que Steven Soderbergh é um realizador com talento e segurança de estilo, e se mostra personalizado mesmo a dirigir um “mega espectáculo” inundado de vedetas. Ele não desiste de rodar longas sequências de câmara à mão, em estilo de reportagem, o que dá uma liberdade de tom inusitada a esta obra.
Há excelentes momentos de muito bom cinema em Façam as Vossas Apostas, desde sequências de acção (todo o desenrolar do golpe é muito bom, mas os preparativos estão á altura do climax) até momentos de fulgurante intimismo (há um encontro entre Danny Ocean e Tess, a uma mesa de jantar, com um diálogo notável de subentendidos e carga erótica e uma excelente representação dos dois actores, mais de Julia Roberts do que George Cloony). O elogio da cumplicidade do grupo não é alheio a uma tradição de filmes sobre a amizade musculada que existe ao longo de todo o cinema norte americano (de que os planos finais do filme são uma elegia de belo efeito plástico e simbólico, com o grupo a partir em direcções diferentes, tendo o edifício do casino e uma fonte luminosa como fundo de uma quimera sonhada e conquistada).
Brad Pitt, George Clooney, Matt Damon, Julia Roberts, Andy Garcia, Elliott Gould ou Carl Reiner são as vedetas de um elenco de luxo que sabe bem acompanhar ao longo de quase duras horas de convívio. A direcção de fotografia de Steven Doderbergh (aqui sob o pseudónimo de Peter Andrews, que já funcionara assim igualmente em “Traffic”), a banda sonora da responsabilidade de David Holmes (que homenageia o filme original, tal como o fazem as aparições de Angie Dickinson e Henry Silva, na assistência do combate de boxe, eles que são dos raros sobreviventes do filme de Milestone), e a direcção artística, cenários e guarda roupa, da responsabilidade de Philip Messina, Keith P. Cunningham, Kristen Toscano Messina e Jeffrey Kurland, são outros tantos motivos que fazem de Ocean’s Eleven um belo pretexto para uma agradável sessão de cinema.

FAÇAM AS VOSSAS APOSTAS (Ocean's Eleven), de Steven Soderbergh (EUA, 2001), com George Clooney (Daniel 'Danny' Ocean), Matt Damon (Linus Caldwell), Brad Pitt (Rusty Ryan), Julia Roberts ('Tess' Ocean), Andy Garcia (Terrence 'Terry' Benedict), Elliott Gould (Reuben Tishkoff), Carl Reiner (Saul Bloom), Scott Caan (Turk Malloy), Bernie Mac (Frankie Cattone), Casey Affleck (Virgil Malloy), Shaobo Qin (Yen Mu-Shuu), Lennox Lewis, etc. 116 minutos; M/ 12 anos. In “A Bola”, de 27.01.2001

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