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Uma recolha de críticas da autoria de Lauro António, aparecidas em diversas publicações portuguesas.

sábado, junho 24, 2006

ROBERT ZEMECKIS:
“A VERDADE ESCONDIDA”



“A Verdade Escondida”, de Robert Zemeckis, é um filme curioso a vários níveis. Primeiro, começa por demonstrar que o seu realizador, muito embora seja homem de grandes recursos e inclusive capaz de excelentes momentos de bom cinema, não é um autor. Quer a série “Back to the Future”, como o divertido “Who Framed Roger Rabbit”, ou ainda os bem sucedidos “Death Becomes Her, Forrest Gump” (que lhe valeu o Oscar para melhor realizador) ou “Contact” estão bem longe de possuírem uma lógica interna que os relacione entre si, para lá da evidência de um mesmo realizador. O mesmo se poderá dizer de um dos seus filmes de início de carreira, “Romancing the Stone”, e agora deste “What Lies Beneath”. Robert Zemecis é um bom realizador, que vive muito da qualidade dos argumentos que escolhe, mas a que não empresta nenhum cunho pessoal e autoral. “What Lies Beneath” é mais uma prova disso. Prova da excelência do trabalho de Zemecis por um lado, prova da ausência de uma marca individual por outro. “What Lies Beneath2 é um excelente trabalho de fábrica, com alguns relampejos de génio por parte de Michele Pfeiffer, mas pouco mais.
Claire Spencer (Michele Pfeiffer), violoncelista com carreira em ascensão, mãe solteira, apaixona-se pelo dr. Norman Spencer (Harrison Ford) com quem casa. Norman, professor universitário e investigador na área da biologia, vive obcecado pela imagem prestigiada do pai, a quem quer fazer esquecer. Mas é na casa herdade do pai que vive.
Depois de mandarem a filha de Claire para a Universidade, o casal fica sozinho nessa herdade perdida na bela paisagem de Vermont. Uns vizinhos recentes vêm animar os serões. Não só Claire os começa a espiar de longe, procurando um assassinato (“Janela Indiscreta”), como os ecos das tempestuosas noites de amor do casal Feur não se deixam de fazer ouvir. E assim corre a primeira hora de “A Verdade Escondida”, com portas que se abrem sozinhas, vozes e ruídos estranhos que se ouvem, fotografias que caiem no chão por si sós, chinelos abandonados com pingos de sangue, carros escondidos e mulheres desaparecidas. Mais ou menos a meio do filme, cansados de seguirem esta via, os argumentistas derrotam Claire e as suas teorias conspiratórias. Dão o dito por não dito, e partem para outra. Agora estamos no domínio do sobrenatural. Claire, que já vinha a ameaçar com a visão de fantasmas, intensifica os seus receios. Agora, reflectido na água da banheira, aparece um rosto de mulher, estranhamente parecido com o seu, mas que dias mais tarde irá saber ser o de uma tal Madison Elizabeth Frank, intempestiva e talentosa aluna desaparecida há um ano, sem deixar rasto. E é no seu encalce que parte Claire. Trata-se de um novo filme, ainda que com os mesmo personagens, agora com muitas cenas de casa de banho e ralos de banheiras (“Psico”), e alguns telefonemas por meio em situações delicadas (“Chamada para a Morte”). Como se vê, Alfred Hitchcock ao seu melhor, em homenagem a preceito. Neste tipo de referências, preferimos de longe Brian De Palma, também ele vampirizador do mestre do suspense, mas com mais talento e uma personalidade mais forte.
Michele Pfeifer, com 42 anos, está linda de morrer (literalmente!) e cada vez melhor actriz. Há momentos sublimes neste filme, em que ela deixa uma marca inesquecível. Harrison Ford, com 58 anos e preparando-se para interpretar um novo episódio de “Indiana Jones”, procura mudar de registo e deixar de ser o herói de todos os dias. Vimo-lo como viuvo atraiçoado pela mulher, num simpático filme de Sydney Pollac, e agora surge, em “A Verdade Escondida”, como esposo extremado no primeiro filme e como personagem ambígua (?) no segundo.
Quanto a Zemeckis já dissemos quase tudo. Mas valerá a pena acentuar a justeza de algumas cenas, rodadas com uma envolvência de câmara notável (as personagens são, por vezes, focadas ao longe, de costas, criando um seguro clima de inquietação), com uma excelente utilização da banda sonora (o silêncio faz-se ouvir nalgumas cenas de forma arrepiante, noutras a música hitchcockeana é também ele de bom recorte).

A VERDADE ESCONDIDA (What Lies Beneath), de Robert Zemeckis (EUA, 2000), com Harrison Ford (Dr. Norman Spencer), Michelle Pfeiffer (Claire Spencer), Diana Scarwid (Jody), Joe Morton (Dr. Drayton), James Remar (Warren Feur), Miranda Otto (Mary Feur), Amber Valletta (Madison Elizabeth Frank), Katharine Towne (Caitlin Spencer), Victoria Bidewell (Beatrice), etc. 129 minutos; M/ 12 anos. / in “A Bola”, de 12.11.2000

1 Comments:

At 12:18 da tarde, Anonymous Anónimo said...

What a great site
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