LA_Arquivo

Uma recolha de críticas da autoria de Lauro António, aparecidas em diversas publicações portuguesas.

sábado, junho 24, 2006

STEPHEN DALDRY:
“BILLY ELLIOT”


A grande coqueluche do cinema inglês chama-se este ano “Billy Elliot2, o filme que tem arrebatado corações, lotado as plateias de cinema, conquistado prémios em festivais e críticas ditirambicas nos jornais e revistas de todo o mundo. Depois de várias recompensas no British Academy Awards, avizinham-se os Oscars, para onde parte com três nomeações (melhor realizador, actriz secundária e argumento original).
Na linha de uma tradição de cinema social e realista, que tem feito ao longo das décadas alguma da grandeza da cinematografia britânica, este filme de mais um encenador de teatro (do Royal Court Theatre) que se lança no cinema com sucesso (casos de Sam Mendes, Anthony Minghela, entre outros) assenta numa base bem realista (uma cidade mineira no norte de Inglaterra, em plena época de crise, durante o reinado de Margareth Thatcher).
Billy Elliot é filho e irmão de mineiros, ainda por cima em greve. Tem onze anos e aprende boxe, até que um dia as miúdas que estudam dança são obrigadas a ensaiar no ginásio onde se cruzam os murros dos “homens”. Billy Elliot descobre então o seu talento natural para a dança, que Mrs. Wilkinson (uma prodigiosa Julie Walters, que já ganhou um Oscar com “A Educação de Rita”) vai incentivar, contra a natural tendência da terra, que vê com maus olhos um rapaz a dançar. Habituados à aspereza do dia a dia, os mineiros não aceitam um filho dançarino (a quem chamam logo de “maricas”), e o calvário do pequeno Elliot vai começar, ensaiando às escondidas, mas gritando rua fora a sua natural alegria e raiva com passes de dança que relembram os grandes musicais. Entre “O Vale era Verde” e “Oliver” (musical).
Esta mescla de realismo duro e cru com a fantasia do musical é excepcionalmente bem recriada pela câmara de Stephen Daldry e pelo talento invulgar de Jamie Bell, que reúne também em si um rosto de provinciano vincado pelo rigor da vida, a elegância máscula de um bailarino e a sinceridade de um grande actor em gestação. As sequências de bailado que se intercalam harmoniosamente na narrativa, e que representam momentos de revolta contra o destino, são excelentes, desde os ensaios iniciais, até às explosões de vitalidade e furor com que termina.
Stephen Daldry tem um olhar pudico e uma maneira discreta de se aproximar das personagens, descrevendo situações de um forte realismo social (as greves, a vida familiar), ora partindo para uma fantasia utópica ou um humor bem doseado. Há, neste aspecto, muitos momentos notáveis (um exemplo: Elliot e uma amiga passeando por uma rua, ela riscando as paredes com um ramo de árvore, passando pelos escudos da polícia de choque sem se dar conta disso...) e apenas um certo tom melodramático retira algum fôlego a esta notável estreia na longa metragem (antes realizara apenas “Eight”, em 1998). Também nos parece que o filme lucraria em acabar dez minutos antes (quando Elliot é aceite como aluno de uma prestigiosa escola de Londres), escusando-nos às explicações finais, que julgamos desnecessárias, e se destinam a tudo explicar (inclusive o futuro “gay” do amigo de Elliot).

BILLY ELLIOT (Billy Elliot), de Stephen Daldry (Inglaterra, 2000), com Julie Walters (Mrs. Wilkinson), Jamie Bell (Billy Elliot), Jamie Draven (Tony Elliot), Gary Lewis (Jackie Elliot), Jean Heywood (avó), etc. 110 min; M/ 12 anos. / in “A Bola” de 18.03.2001

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