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Uma recolha de críticas da autoria de Lauro António, aparecidas em diversas publicações portuguesas.

quarta-feira, agosto 02, 2006

OS PIRATAS DAS CARAIBAS
– A MALDIÇÃO DO PÉROLA NEGRA
Os piratas, que fazem do oceano a sua casa, apareceram na História logo que houve nos mares algo para pilhar. Quando o comércio se intensifica no Mediterrâneo, com fenícios, gregos e romanos a trocarem produtos valiosos, logo surge a pirataria, que se intensificará sobretudo nos séculos XVII e XVIII, depois das potências europeias começarem a explorar as suas colónias.
O trânsito de especiarias, metais preciosos e demais tesouros, inspirou o aparecimento de barcos saqueadores, comandados por renegados das grandes potências, exilados por motivos políticos ou religiosos, ou simples “outsiders” sem eira nem beira, presos de delito comum, enviados para as colónias para cumprir penas a que conseguem furtar-se. Surgem assim dezenas e dezenas de personagens que capitaneiam equipagens de centenas de foragidos. Com base em relatos míticos e outros mais realistas, as lendas começam a circular e a criar um vasto manancial de literatura de viagens marítimas que tudo contêm menos material apologético de virtudes e honradez. Apenas aqui e ali aparece a figura de um corsário, flibusteiro, pirata ou bucaneiro cuja moral justiceira pode ser enaltecida. No mais, o que impera é o roubo e a violação. Um imaginário de sangrentas aventuras.
Mas as mais recentes pesquisas históricas dizem que nem tudo foi mau por essas bandas, fala-se agora em sociedades organizadas de forma democrática no interior dos barcos, descobrem-se regulamentos internos, o universo machista do pirata cede perante o aparecimento de várias figuras femininas que também foram piratas de saias (ao lado dos celebrados capitães Drake, Kidd, Jean Lafitte, John Avery, Blackbeard ou Henry Morgan temos agora Cheng I Sao / Ching Shih nos inícios de século XIX, Mary Read e Ann Bonny no século XVIII, Grace O’Malley ou Granuaile, a “Rainhas dos Piratas irlandeses”, no século XVII, ou a longínqua pirata escandinava Alwilda, do V século).

Infelizmente (ou não), se há filmes baseados em episódios da História que deliberadamente pouco conservam da História de que partem, esses são os filmes de piratas. O espírito da pirataria apodera-se por inteiro de argumentistas, realizadores e actores quando se trata de conceberem histórias, realizá-las e interpretá-las. A “liberdade poética” impera e a pilhagem funciona. Não deve haver, no entanto, ao longo de toda a História do Cinema, muitos outros filmes de ambiente histórico tão sedutor como os filmes de piratas.
Os piratas existiram obviamente, e muitos até tiveram nomes próprios tal como são nomeados nos filmes. Vários participaram em acontecimentos que lhes são atribuídos, alguns tiveram uma existência com muitos pontos de contacto com aquela que o cinema mostra. Mas os filmes efabulam de tal forma sobre essas personagens e os episódios por si vividos que rara é a obra cinematográfica onde se possa dizer que algo corresponda rigorosamente à verdade histórica (também esta já de si tão resvaladiça!). No entanto, os filmes de piratas existem quase desde que existe cinema, e sempre com grande sucesso público, o que engloba agradar a jovens e a menos jovens, homens e mulheres, pobres e ricos, gregos e troianos.
Qual a razão deste prazer irrecusável ao ver um “bom filme de piratas”? Pois parece que todos temos um pouco de pirata dentro de nós, que se revela (e identifica) nessas aventuras rocambolescas quase sempre passadas nos exóticos mares do Sul, onde o instinto de revolta e de não integração numa sociedade organizada, regrada e normativa é posto à prova. Por isso, quanto mais efabulador for o argumento e mais libertária a realização, quanto mais “composta” e rebuscada for a interpretação dos actores mais nos identificamos com essas figuras lendárias que foram pólos de destruição, de anarquia, de roubo, de pilhagem.
Os piratas são seres associais que viveram – e vivem ainda, basta olhar para o campo da informática, esses novos oceanos da pilhagem contemporânea - na base de um comportamento primitivo, libertador e subversivo quanto a regras, convenções, preconceitos. Os tesouros são para se roubar, as mulheres bonitas para se usufruírem logo ali e as outras para se violarem também ali mesmo, os alimentos para se tragarem à mão, os poderosos para se amesquinharem, os ricos para se empobrecerem, as cidades para se assaltarem, os portos para se bombardearem, bem assim como os castelos dos governadores, com quem se tem quase sempre um duelo decisivo na ponta final do filme. Os barcos com bandeiras nacionais são para se abordarem, em nome de uma bandeira preta sem Pátria, com uma caveira encimando espadas cruzadas. Nos filmes de piratas estamos no domínio do interdito que se nomeia para prazer de plateias de “associais” integrados que assim se vingam de vidas monótonas e insípidas. Cada abordagem do “pirata dos nossos sonhos” é uma abordagem nossa que se concretiza, sem o perigo de se ir parar aos calabouços das redondezas.
O pirata é romântico e sugestivo mesmo quando tem os dentes podres e bem pretos, o cabelo eriçado, uma perna de pau e um olho de vidro, a vestimenta esfrangalhada e um ideário aparentemente sem nobreza. Não se percebe bem porquê, mas o pirata é dos únicos anti-heróis que nem sempre rouba aos ricos para dar aos pobres, mas que gostamos de ver sobreviver no plano final, quer fique para si com o tesouro, quer este esvoace, quer seja distribuído pelos mais necessitados. Em todos os casos, o pirata efectua no íntimo de cada espectador o seu trabalho de catarse, e mesmo quando morre enforcado num patíbulo crepuscular, as plateias sabem que há alguma coisa a comemorar: enquanto viveu, desforrou-se, e na hora da morte tem sempre alguma donzela a carpir mágoas. Ou não fossem quase todos os piratas do cinema carismáticos actores, ainda por cima em momentos esplendorosos das suas carreiras (por que será que as personagens de piratas dão quase sempre excelentes trabalhos de composição aos seus actores?).
Já reparam na espantosa lista de actores que criaram figuras inesquecíveis de piratas, flibusteiros e quejandos? Então vejam só alguns: Douglas Fairbanks, Errol Flynn, Wallace Berry, Clark Gable, Laurence Olivier, Fredric March, Akim Tamiroff, Walter Brennan, Anthony Quinn, Charles Laughton, Robert Newton, Burt Lancaster, Christopher Lee, John Payne, Stewart Granger, George Sanders, Yul Brynner, Charlton Heston, James Coburn, Peter Ustinov, Robert Shaw, Michael Caine, Kevin Kline, Walter Matthau, Oliver Reed, Christian Bale, Spencer Tracy, Mickey Rooney, Robert Ryan, Terence Stamp, Robin Williams, Dustin Hoffman, Bob Hoskins, Geena Davis, Matthew Modine, Frank Langella, ou Johnny Deep … Que lista! Só falta Humphrey Bogart para estar completa e perfeita, ainda que Bogart tenha sido pirata em muitas outras obras de uma pirataria diferente.
Creio que poderemos, sem muito receio de errar, considerar o pirata uma personagem que, prolongando-se desde o imaginário infantil (o capitão Gancho de “Peter Pan” é um belíssimo exemplo!), permanece no subconsciente colectivo das plateias de todo o mundo (depois de o ter estado também no subconsciente colectivo dos leitores de Emílio Salgari ou de Rafael Sabatini). É um herói maculado, um apátrida, um associal que consegue manter uma auréola de romantismo invulgar, perante as características que o definem. E aí o cinema, “fábrica de sonhos”, tem o seu papel importante – cada pirata turbulento e sanguinário é desenhado de forma ora heróica ora caricatural, de maneira a tornar-se um ser quase irreal, uma criação sem correspondente no real. O público pode identificar-se sem problemas de consciência: os piratas encarnados por Charles Laughton, Akim Tamiroff, Robert Newton, Peter Ustinov, Anthony Quinn, Christopher Lee, Robert Shaw ou Walter Matthau não existem senão como “criações” cinematográficas. Muitos outros, porém, surgem como heróis de corajosas causas. À imagem e semelhança dos seus actores: Douglas Fairbanks, Errol Flynn, Clark Gable, Spencer Tracy, Burt Lancaster, Stewart Granger ou Kevin Kline.

Os filmes de e sobre piratas surgem periodicamente nas salas de cinema de todo o mundo. No período do cinema mudo, Douglas Fairbanks celebrizou-se no cinema de aventuras, particularmente como “O Pirata Negro” (1922), de Albert Parker. Nos anos 30, Errol Flynn foi o pirata perfeito (se é que nestas coisas de pirataria se pode ser perfeito!) em obras como “Capitão Blood” (1935) ou “O Gavião dos Mares” (1940), ambos de Michael Curtiz. Nas décadas de 30, 40 e 50, os piratas multiplicaram-se em filmes inesquecíveis: Wallace Berry ergueu a primeira grande adaptação de “A Ilha do Tesouro” (1935), de Victor Fleming; Tirone Power ressuscitou “O Pirata Negro” (1942), de Henry King; John Payne foi protagonista de “Wake of the Red Witch” (1948), de Edward Ludwig e “Raiders of the Seven Seas” (1953), de Sidney Salkow; o deslumbrante Charles Laughton passou pela “Revolta na Bounty” (1948), de Frank Lloyd, foi o “Captain Kidd” (1945), de Rowlkand V. Lew; Stewart Granger atravessou e marcou essa obra prima de Fritz Lang, “Moonfleet” (1955); Clark Gable esteve “Nos Mares da China” (1935), de Tay Garnet; Burt Lancaster foi o fabuloso “The Crisom Pirate” (1952), de Robert Siodmak; Robert Newton emprestou o seu humor a “Barba Negra, o Pirata” (1952), de Raoul Walsh; até Bob Hope foi pirata em “A Princesa e o Pirata” (1944), de David Butler...
Mas os piratas nunca abandonaram os écrans, e em 1965, Alexander Mackendrick dá-nos um espantoso “Tempestade na Jamaica” e vinte anos depois, Roman Polanski não foge ao tema em “Pirates”, com um turbulento Walter Matthau, na composição do admirável Capitão Thomas Bartholomew Red. Antes, em 1976, Robert Shaw também se deixara sugestionar pela composição da figura do pirata Ned Lynch, em “Swashbuckler”, de James Goldstone. Muito mais próximo de nós, “Cutthroat Island” (1995), de Renny Harlin, tinha como protagonistas Geena Davis e Matthew Modine.
Até surgir, em 2003, “Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl”, de Gore Verbinski, com Johnny Deep na figura de Jack Sparrow, “o pior pirata de que já ouvi falar!”, afirma-lhe na cara alguém, que recebe uma desconcertante resposta: “Ah, isso quer dizer que já ouviu falar de mim!”. Historicamente, nada a dizer sobre este filme essencialmente de aventuras e bom humor, numa linha de auto-paródia a um género com cartas de nobreza, o que se integra excelentemente no tipo de obras hoje em dia aguardadas com expectativas pelas plateias de todo o mundo.
Jack Sparrow é um pirata algo efeminado, galanteador, exímio na arte de furtar-se a confrontos, até ao momento em que estes são indispensáveis e onde demonstra então uma habilidade e perícia totais. Jack Sparrow é um esgrimista valoroso, um troca trintas ardiloso, um astuto estratega... Disse Johnny Deep, numa entrevista, que, para criar o herói, se inspirou em Keith Richards (o guitarrista dos Rolling Stones) e na Doninha Fedorenta dos desenhos animados da Warner, que não se cansa de perseguir gatas.
Inspirado numa das grandes atracções dos parques temáticos da Disney, “Piratas das Caraíbas” recupera o clima de uma viagem fantástica pelo interior das cavernas que nos recordam o universo dos piratas em pleno século XVII, com quadros animados e hologramas de fantasmas que ameaçam os visitantes à sua passagem. O “frisson” manso que nos faz vibrar e sonhar.
A história fala-nos de Jack Sparrow (Depp), flibusteiro que recupera de uma longa permanência num ilha isolada, depois do pérfido capitão Barbossa lhe ter roubado o barco, “Black Pearl”, atacado Port Royal, nas Caraíbas, e raptado a bela filha do governador, Elizabeth Swann (Knightley). Entretanto, Will Turner (Bloom), um jovem ferreiro, amigo de infância da filha do governador, que se apaixonara secretamente por Elizabeth, decide resgatá-la e, para isso, solicita a ajuda de Sparrow, que se encontra preso. O problema é que eles não sabem que o “Pérola Negra” está agora amaldiçoado e que, sob a luz do luar, Barbossa e os seus tripulantes se transformam em zombies ameaçadores... Além disso, há ainda a presença de um tesouro de indescritível riqueza, que só cairá nas mãos de quem possuir todas as moedas mágicas que o abrem.
Os efeitos visuais da produção são bastante bons. Os mortos vivos movem-se com uma fluidez e credibilidade invulgares, as transformações funcionam como interessante recurso dramático e humorístico, como na sequência da batalha naval, durante a qual os piratas atravessam raios de luar que os iluminam durante o duelo, oscilando entre suas “versões” humanas e zombicas.
Bons cenários, uma bela fotografia assinada por Dariusz Wolski (“Dark City” e “O Corvo”) e uma excelente partitura musical, devida a Klaus Badelt, ajudam ao êxito deste sucesso de verão. O argumento, divertido e barulhento qb, traz a assinatura de dois dos responsáveis pelo sucesso de “Shrek” (Ted Elliott, Terry Rossio, acrescidos aqui de Stuart Beattie e Jay Wolpert), o que é um bom ponto de partida, muito embora pudesse ter sido ligeiramente cortado nalgumas excrescências que tornam o filme demasiado longo.
Gore Verbinski (que assinara obras tão dispares como “Mouse Hunt” (Não Acordem o Rato Adormecido, 1997), “A Mexicana” (2001) ou “The Ring” (O Aviso, 2002) funciona relativamente bem no registo adoptado, entre o filme de aventuras e a paródia ao género, a comédia sentimental e o filme de animação. Afinal uma compilação de tudo o que fizera até agora, reunidos numa mesma obra.
Mas é no capitulo da interpretação que se deve sublinhar o trabalho magnífico de uma dupla perfeita: Geoffrey Rush e Johnny Depp, com destaque particular para este último, arriscando bravamente numa composição de truão amaneirado, andar trôpego e olhar lânguido, ornamentado ao jeito de árvore de Natal, de tez cigana e humor ácido.
in revista “História”


OS PIRATAS DAS CARAIBAS – A MALDIÇÃO DO PÉROLA NEGRA
Título original: Pirates of the Caribbean: The Curse of the Black Pearl (2003)
Realização: Gore Verbinski (EUA, 2003); Argumento: Ted Elliott, Terry Rossio, Stuart Beattie, Jay Wolpert; Música: Klaus Badelt, Ramin Djawadi, James Michael Dooley, Nick Glennie-Smith, Steve Jablonsky, James McKee Smith, Blake Neely, James McKee Smith, Mel Wesson, Geoff Zanelli, Hans Zimmer / Xavier Atencio, George Bruns (canção "Yo Ho (A Pirate's Life for Me)"); Fotografia (cor): Dariusz Wolski; Montagem: Stephen E. Rivkin, Arthur Schmidt, Craig Wood; Casting: Ronna Kress; Design de produção: Brian Morris; Direcção artística: Derek R. Hill, James E. Tocci, Donald B. Woodruff; Decoração: Larry Dias; Guarda roupa: Penny Rose; Maquilhagem: Greg Cannom, Mary Kim, Martin Samuel, Brian Sipe, Keith VanderLaan; Direcção de produção: Paul Deason, Thomas Hayslip, Bruce Hendricks, Douglas C. Merrifield; Assistentes de realização: Bruce Hendricks, Peter Kohn, Darin Rivetti, Frederic Roth, Andrew Ward, Alexander Witt; Departamento de Arte: Julie Beattie Iiams, Robert A. Blackburn, Max E. Brehme, Hugh Conlon, Oscar Delgadillo, Monica Frommholz, Héctor M. González, L. David Gordon, Will Grant, Grey Hill, William Hiney, Mark Hitchler, Gregory S. Hooper, Carla S. Nemec, Tim Scheu, Domenic Silvestri, Charles Stewart, Darrell L. Wight, Christopher Woodworth; Som: Ulrika Akander, Christopher Boyes, Christopher Boyes, Valerie Davidson, Ken Fischer, Kenneth Karman, Alan Meyerson, Timothy Nielsen, Lee Orloff, David Parker, Solange S. Schwalbe, Karen Spangenberg, Jeanette Surga, Addison Teague, George Watters II, Dave Whitehead, Hans Zimmer; Efeitos especiais: Terry D. Frazee, Daniel P. Murphy, Michael O'Brien, Edward V. Pannozzo, Kai Shelton, Brian Van Dorn; Efeitos Visuais: Charles Bailey, Dugan Beach, Kim Boyle,Jill Brooks, Eric D. Christensen, Leigh Ann Fan, Jammie Friday, Charles Gibson, Geoff Heron, Bryan Hirota, Dennis Hoffman, John Knoll, Tim Landry, Gregory D. Liegey, Wayne Lo, Margaux Mackay, Gray Marshall, Aaron McBride, Patrick Neary, Paula Nederman; Produção: Jerry Bruckheimer, Paul Deason, Bruce Hendricks, Chad Oman, Pat Sandston, Mike Stenson.
Intérpretes: Johnny Depp (Jack Sparrow), Geoffrey Rush (Barbossa), Orlando Bloom (Will Turner), Keira Knightley (Elizabeth Swann), Jack Davenport (Norrington), Jonathan Pryce (Governador Weatherby Swann), Lee Arenberg (Pintel), Mackenzie Crook (Ragetti), Damian O'Hare (Gillette), Giles New (Murtogg), Angus Barnett (Mullroy), David Bailie (Cotton), Michael Berry Jr. (Twigg), Isaac C. Singleton Jr., Kevin McNally, Treva Etienne, Zoe Saldana, Guy Siner, Ralph P. Martin, Paula J. Newman, Paul Keith, Dylan Smith, Lucinda Dryzek, Michael Sean Tighe, Greg Ellis, Dustin Seavey, Christian Martin, Trevor Goddard, Vince Lozano, Ben Wilson, Antonio Valentino, Lauren Maher, Brye Cooper, Mike Babcock, Owen Finnegan, Ian McIntyre, Vanessa Branch, Sam Roberts, Ben Roberts, Martin Klebba, Félix Castro, Mike Haberecht, Rudolph McColam, Gerard J. Reyes, etc.
Duração: 143 minutos; Distribuição em Portugal: Lusomundo Audiovusuais; Classificação etária: M/12 anos.

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